Ele passou quase metade da vida no crack: 'Um dia cansei de comer do lixo'

As internações são focadas no proibicionismo, e isso não deu certo comigo. Sou um cara sociável, tentei mudar meu estilo de vida. Eu era irmão da igreja, de terno e gravata e tal, mas, de certa forma, não era mais o Regis. Busquei por um milagre e não rolou comigo. Cansei das internações e acabei nas ruas." 

A decisão veio depois de ele mesmo não se reconhecer mais: por causa do vício, já não conseguia ir trabalhar e passou a cometer furtos dentro de casa.

Onde eu encostava, as pessoas falavam: 'Vixe, esse cara aí é um pilantra'. Só que, no fundo de mim, aquilo me incomodava. Porque o uso de drogas é uma doença que faz com que você transforme todas as prioridades da sua vida nas prioridades e necessidades do uso somente. Então, não me importava com o que eu fazia. Não na hora, né? Depois, eu refletia... como que eu pude fazer tudo isso? Tinha vergonha de tudo e de todos. Só queria fugir, só que não tem como fugir de si mesmo, né?"

No período em que morou nas ruas, Regis, que é metalúrgico por formação, foi perdendo tudo: o trabalho e o contato com a mãe, filhos e amigos. Para sobreviver, percorria as ruas do bairro Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, conhecido pelo comércio popular e pelas lojinhas de eletrônicos, atrás de caixas de papel recicláveis. "Pegava de tudo e vendia. Carregava papelão dia e noite. Cheguei a passar 10 dias acordado de tanto que usava crack." 

"Na rua é o seguinte: as pessoas têm medo de você e te desprezam. Têm preconceito, porque acham que você vai roubá-las. Te menosprezam, porque não te consideram um ser humano. Então, elas te chutam, porque acham que você é um cachorro. Elas cospem em você. Infelizmente, acham que ali não tem mais seres humanos. Chamam de zumbi."

Para manter o vício e ter um "status" na rua, Regis entrou para o crime. Tempos depois, foi preso por tráfico de drogas. Ficou 2 anos, 9 meses e 22 dias na cadeia. Quando saiu da penitenciária, tentou retomar o rumo da própria vida e abriu um negócio. Mas, de novo, perdeu tudo para o vício. 

"Quando saí da prisão, abri uma microempresa. Só que eu estava fumando cada vez mais. Dentro da cadeia também tinha drogas. Saí bastante viciado de lá. Dizem que tem gente que fuma até os fios da parede, né? Foi isso que eu fiz. Vendi até os fios da minha empresa para comprar crack. Minha família contraía dívidas por causa do meu vício". 

Bomba, tiros e uma pedra na mão

"Tinha um projeto chamado De Braços Abertos, que recebia quem vivia na rua. Ali, eles traziam a dignidade da gente de volta. Tinha banheiro, café de manhã. Nem todo mundo entrava ali para tomar café. Mas, nessa que você entrava, eram uma ou duas horas que você passava lá dentro. São duas horas que você deixou de usar sua droga. Duas horas que você lembrou que é gente, que tem família." 

"Não tinha autoestima. Passei a entender o que sentia e entendi que as drogas estavam me prejudicando. Tentava parar de usar, mas recaía por causa das dores da alma. A internação não trata a dor da alma, só do uso."

E foi "se ajudando" que ele encontrou novas escolhas para lidar com a dor na alma: acompanhamento médico, terapia e skate.

Parar de usar não é tão difícil. Difícil é continuar vivendo sem usar. Por que quando algo despertar a sua dor, o que você vai fazer? Não era por causa disso que você usava droga? O seu cérebro vai pedir, tentar te enganar: 'Fuma uma que você melhora'". 

Já são mais de quatro anos longe das ruas e hoje ele virou uma voz para outros que ainda estão nas drogas. Nas redes sociais,conversa com usuários e familiares de viciados, usando sua experiência para ajudar quem precisa. Também reuniu suas histórias no livro 'Skate no caminho das pedras'.

"Para mim foi importante escrever o livro, porque consegui terminar alguma coisa. Eu não conseguia finalizar as coisas na minha vida, só começava e desistia. Vou escrever outras histórias para mudar outras vidas. Cada vez que alguém me fala que não fuma mais porque eu ajudei, eu respondo que eles me ajudam." 

Hoje, Regis está casado com Simone, que conheceu na internet, e feliz. Mesmo assim, a única certeza que diz ter é de que a luta sempre continua.

Fonte: Uol

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